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Inovação + Conexão + Parcerias: Receita de soluções criativas para o transporte público
08/09/2019 | Edição nº 107Enquanto as populações urbanas perdem mobilidade em seu dia a dia, o setor de transporte coletivo enfrenta severa crise no Brasil e a qualidade de vida nas cidades piora, as inovações que surgem tendem sempre a privilegiar o transporte individual, o que acaba por gerar maior número de veículos nas vias, piorando congestionamentos e aumentando o número de acidentes.
Diante desse cenário, a NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos) criou um programa que pretende incentivar soluções inovadoras para o sistema de transporte público como um todo. A ideia é buscar o desenvolvimento de uma mobilidade urbana mais voltada para o coletivo, sustentável, com foco nas pessoas e na qualidade de vida. Em linhas gerais, este é o objetivo do “Coletivo – Programa de Inovação em Mobilidade Urbana”, lançado pela entidade no dia 7 de maio.
Identificando parceiros
Inicialmente, foi feito um levantamento para identificar os principais agentes que influenciam a mobilidade. Foram identificados 31 tipos desses influenciadores. A ideia é conectá-los, criando rede de parceiros que proponham, analisem, aprovem e desenvolvam soluções criativas de melhorias para o transporte coletivo, como, por exemplo, aquelas que permitam redução de custos e aumento da produtividade. O Programa considera como ecossistema da inovação entidades de ensino, investidores e empresas do setor, membros da sociedade em geral, conforme o gráfico ao lado.
Hub de inovação
O Coletivo criou um hub, espaço físico e virtual, por meio do qual poderá ocorrer toda interação entre os diversos parceiros. Sediado fisicamente em Brasília, foi chamado de “Garagem Central”. Os projetos/ações/ideias/processos a serem desenvolvidos serão selecionados a partir de editais públicos, chamados “Desafios do Coletivo”. Podem se inscrever empresas, empreendedores e startups que pretendam propor soluções para quaisquer problemas hoje enfrentados pelo transporte público. Isto abre expressivo número de possibilidades, abrangendo desde formas inteligentes de pagamento a sistemas de informação para o usuário, só para dar um exemplo. As inscrições para o primeiro Desafio foram abertas no dia 12 de julho, e o edital, disponibilizado no site www.coletivo. org.br. A primeira seleção foi em 21 de agosto.
Ações em prol das mudanças
O projeto não se resume, porém, ao lançamento de desafios e seleção de propostas apresentadas. Maratonas de desenvolvimento de soluções; eventos de capacitação em inovação, empreendedorismo e mobilidade, os Hackininovations; e criação de hubs regionais devem provocar grandes mudanças, entre elas a maneira de se ver o transporte público, muitas vezes considerado entre nós como a última opção, particularmente quando as novas formas de mobilidade prestigiam o transporte individual – de aplicativos como Uber a patinetes.
Ouvir as pessoas que utilizam o transporte em suas aspirações para estudar propostas de soluções dessas demandas, que sejam criativas e inovadoras, provocar uma reflexão conjunta, analisar o sistema como um todo, sua influência no dia a dia das pessoas e, consequentemente, das cidades, são alguns dos caminhos para se elevar o transporte público brasileiro a um patamar que lhe permita cumprir seu papel de tornar as cidades mais eficientes e os seus passageiros mais satisfeitos e bem atendidos.
No entender de Otávio Cunha, presidente da NTU, somente o investimento em inovações pode impulsionar essa mudança. Para ele, chegou a hora do transportador de passageiros assumir o volante das mudanças e se direcionar para um novo mundo que se descortina para a mobilidade. “Seremos protagonistas dessas mudanças”, afirma. Segundo Cunha, o movimento é bastante ambicioso, pois pretende fazer da mobilidade um elemento propulsor do desenvolvimento das pessoas, desencadeando um efeito positivo nos centros urbanos. “Vamos oferecer opções que atendam melhor as necessidades do público no contexto da nova mobilidade urbana”, diz Cunha, que acredita que o empresariado do setor de transporte urbano rodoviário de passageiros precisa estar atento às novidades, que não param de acontecer em face das novas tecnologias, para não só acompanhá-las e identificar as tendências, como assumir o papel principal. “Grandes mudanças estão ocorrendo na mobilidade urbana em todo o mundo e não vamos ficar indiferentes”, defende.
Presente ao lançamento do Programa, o então secretário nacional de Mobilidade Urbana, Jean Carlos Pejo Pejo, atual assessor especial do Ministro de Estado de Desenvolvimento Regional, anunciou enfaticamente sua adesão: “Podem ter certeza de que, dentro da Secretaria de Mobilidade Urbana, o engenheiro Jean Carlos Pejo estará junto nesse Coletivo”.
A engenheira Richele Cabral, diretora de Mobilidade da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro, cita o slogan “salvar a cidade do caos”, nascido das convicções do grupo que participou da criação desse movimento. Ela lembra: “a gente pensou: bem, se a ideia é, de fato, investir no transporte público, o que se quer é salvar a cidade do caos. E nasceu o slogan”. Richele diz que o transporte individual e opções como os aplicativos não podem ser encarados como soluções de cidade. “Quando você busca que o transporte público seja o melhor possível, o objetivo final é que as pessoas tenham qualidade de vida. E este é o propósito que a gente vai buscar. O segmento empresarial se juntou, reconhecendo que precisa fazer alguma coisa para a inovação”, diz a diretora, que se confessa não só esperançosa, mas ansiosa pelos primeiros resultados do Programa. “É nisso que eu acredito, que o Coletivo possa fazer a diferença”, conclui.
Tipos de parceiros
Há três tipos de parcerias possíveis com o Programa, de acordo com o tipo de envolvimento.
O parceiro institucional, importante como multiplicador da cultura da inovação e na contribuição para o desenvolvimento de projetos. Participa com exclusividade de eventos, ações de divulgação e engajamento, conquistando o direito de associar sua marca à inovação na mobilidade urbana. O parceiro de conteúdo pode atuar no intercâmbio de conhecimentos com as startups, comunidades de inovação, profissionais especialistas, empresas de tecnologia e fornecedores da mobilidade urbana, divulgando tecnologias e boas práticas. Participa de atividades de capacitação, discussão técnica e produção de conteúdos. Contribui nas comissões de avaliação e acompanhamento dos projetos de inovação. Já o parceiro patrocinador, como o nome diz, participa financeiramente, podendo ajudar nas diretrizes de projetos e atuar como parceiro institucional e/ou de conteúdo, além de participar do processo de incubação de startups. Existem três tipos de patrocínio: bronze, que acompanha em primeira mão os resultados alcançados em eventos internos de validação; prata, que pode interagir com as startups durante o processo de pré-incubação, participar de reuniões de definição de diretrizes e validação (acumula os benefícios da categoria bronze); e ouro, que pode participar ativamente no processo de pré-incubação, acompanhamento, validação e participação no júri das competições de ideias e projetos, além de orientar as startups (acumula os benefícios das categorias bronze e prata).
Unindo forças
Um dos principais desafios, quando se trata de o segmento empresarial trazer inovações para o transporte público, é que o setor é regido por contratos rígidos e opera em ambiente bastante controlado, em que o poder concedente dita as normas. E foi isso que levou a NTU a se tornar o núcleo de conexão de vários técnicos, de entidades e organizações diversas, para pensar juntos. Soluções voltadas para a coletividade, buscadas coletivamente, visando melhorar o transporte coletivo. Este é o caminho para se construir uma mobilidade melhor no futuro, salvando as cidades de se tornarem menos eficientes na mesma medida em que crescem e optam por soluções de transporte individual, que aumentam os congestionamentos e pioram a qualidade de vida nesses espaços urbanos.
Atividades do Coletivo
1 – Divulgação e engajamento
Serão realizadas por meio de eventos oficiais e públicos: o Dia do Coletivo, o Dia da Inovação e o Vem para o Coletivo, além de outros, similares. Há previsão de ocorrência de, no mínimo, quatro eventos durante o primeiro ano.
2 – Captação de ideias e talentos
As ideias inovadoras e os talentos serão captados por meio de eventos como o Desafio do Coletivo, o HackInnovation e outros. No primeiro ano, há a previsão da ocorrência de, no mínimo, 8 eventos.
3 – Captação de apoio ao desenvolvimento de projetos de inovação
Atividades que compreenderão o processo de pré-incubação de projetos de inovação. Cada ciclo terá a duração de seis meses. Essas atividades produzirão o apoio e suporte necessários para o desenvolvimento de projetos de inovação em fase inicial, para que alcancem um nível mínimo de aplicabilidade.
4 – Promoção e qualificação
Eventos voltados para os participantes do Coletivo (startups, comunidades de inovação, profissionais especialistas, empresas de tecnologia e fornecedores de mobilidade urbana). Compreenderão oficinas temáticas, eventos de melhores práticas, palestras de especialistas e cursos de inovação, entre outros.
Anunciado o vencedor do primeiro desafio de inovação
Foi anunciado, no dia 21 de agosto, durante o Seminário Nacional da NTU, o vencedor do Primeiro Desafio do Coletivo: OnBoard Mobility, representado por Luiz Renato de Mattos, de 27 anos. Em segundo e terceiro lugares ficaram Nina Mobile e Areja Bus. Conforme o regulamento do Desafio, o projeto vencedor ficará incubado no hub de inovação do Coletivo. A seleção foi feita após apresentação dos seis projetos finalistas, e votação pelo Comitê Julgador e também pelo público.
Participaram, como finalistas: Areja (BA); DSME (DF); Milênio Bus (SP); Nina Mobile (PE); On.I-Bus (DF); e OnBoard Mobility (SP). Fizeram parte do Comitê Julgador deste Primeiro Desafio de Inovação do Coletivo: Cileneu Nunes, CEO da Upaya Desenvolvimento Corporativo; Getúlio Vargas de Moura Júnior, presidente do Instituto MDT; Jean Carlos Pejo, assessor especial do Ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto; Rodrigo Mata Tortoriello, presidente do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Públicos de Mobilidade Urbana; Otávio Cunha, presidente executivo da NTU; e Edmundo Pinheiro, conselheiro da NTU e presidente do Conselho de Inovação da entidade.
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