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UCT cria programa para orientar herdeiros e jovens empresários das empresas de transporte
14/03/2017 | Edição nº 97No Brasil, estima-se que mais de 80% das organizações empresariais sejam familiares. Muitos dos fundadores de empresas de ônibus, devido ao grande envolvimento na administração do negócio, nem sempre tiveram a oportunidade de se preparar para a transferência do controle ou da gestão aos seus herdeiros. Nesse cenário, o processo de sucessão torna-se um desafio ainda maior: a nova geração de empresários precisa estar preparada para o momento presente, respeitando o passado sem perder o futuro de vista.
Para ajudar nesse processo, a Universidade Corporativa do Transporte (UCT), segmento da Fetranspor voltado à educação e treinamento, criou o Grupo de Jovens Empresários, programa destinado aos sucessores e/ou herdeiros de empresas do Sistema Fetranspor. “O comportamento e a grande complexidade do negócio familiar, a aprendizagem, a valorização do patrimônio, a preservação dos espaços afetivo e profissional e também as questões que transcendem os muros da própria empresa, que opera para toda uma sociedade, são questões fundamentais aos sucessores. E isso vale também para quem não vai seguir no setor, pois antes de serem sucessores, esses jovens são herdeiros e precisam entender o que foi construído e como preservar”, explica Ana Rosa Bonilauri, diretora da UCT.
O lançamento oficial do programa aconteceu durante o Painel “Ampliação de Responsabilidades na Sucessão das Empresas: da excelência de gestão até a invenção do futuro dos negócios”, realizado no 17º Etransport, no Riocentro, dia 25 de novembro, e que contou com palestras do professor e consultor da Fundação Dom Cabral, Dalton Sardenberg; da diretora executiva da Ernest Young, Monique Haddad, e da diretora da ESPM, Flávia Flamínio.

Arte: Graphix Mania/ Depositphotos.com
O empreendimento como um todo
O interesse em formar o Grupo de Jovens Empresários partiu dos próprios sucessores, que queriam trabalhar a expertise sobre os negócios da família. “Os pais investiram muito em seus filhos, para que tivessem suas profissões, deixando-os livres para escolhê-las, algo muito comum no Brasil. Atualmente, encontramos pessoas com diferentes formações e isso é uma riqueza que devemos aproveitar, pois representa grande diversidade de olhares para uma mesma questão. Cada um com sua especialidade, suas expectativas e sua juventude; não podemos perder isso”, defende Bonilauri.
Para a diretora da UCT, além de conhecer modelos de boa gestão, de preservação do patrimônio e de administração de bens familiares, é preciso ser excelente conhecedor do ambiente em que se opera e analisar como continuar o empreendimento sem se esquecer dos valores dos fundadores, que não podem ser abandonados. “A sucessão pode ser trabalhada do ponto de vista acadêmico, do desenvolver-se como líder, principalmente considerando os pontos mais ligados às questões financeiras, já que a sustentabilidade do negócio passa pela solidez financeira do patrimônio. Porém, ainda há o relacionamento com os diversos stakeholders, como com o poder concedente, com as inovações relacionadas à mobilidade urbana e, principalmente, com a sociedade”.
A proposta é estimular reflexões sobre tudo isso, para que a preparação seja completa e ideal para todos os níveis de envolvimento. “Eles são futuros dirigentes de empresas, de grupos de empresas, de consórcios. E ainda poderão sair do espaço das organizações para liderar entidades nacionais e internacionais representativas do setor de transporte, que incluem em suas discussões a mobilidade urbana e influenciam decisões governamentais de planejamento. São exemplo de tais instituições a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), a International Association o Public Transport (UITP) e até a própria Fetranspor. Queremos que eles decolem, participem e liderem avanços nessa nossa indústria e há uma longa trajetória pela frente”, prevê Bonilauri.
De acordo com as demandas
A UCT está pronta para tratar dos diversos temas que norteiam a questão da sucessão. Mas o conteúdo final será construído pelos próprios participantes, de acordo com suas necessidades. Os facilitadores que conduzirão as primeiras oficinas, previstas para março, serão profissionais que não atuam no setor de transportes. Um dos escolhidos é professor com formação em psicanálise, sendo bastante capacitado para melhor entender as demandas de um grupo homogêneo apenas pela similaridade da herança familiar e ajudar a alinhar o programa aos participantes, um feito pioneiro no Estado. As aulas serão realizadas em salas reservadas ou em espaços abertos, no Rio ou em qualquer outra cidade que o grupo decida visitar, para ampliar seus conhecimentos sobre quaisquer assuntos. “Há jovens empresários nas universidades e ainda fora das empresas, há os que já estão aprendendo dentro das organizações e há quem já esteja gerenciando. As reuniões serão com filhos, primos, jovens empreendedores prontos para aprender e compartilhar experiências. Estamos nos voltando também para a construção de ética social e ética nos negócios, com menor ênfase ao ponto de vista legalista administrativo, mas reforçando o ponto de vista de uma relação cidadã e saudável. Quando se fala em sustentabilidade das organizações, a visão precisa ser ampla, pois tudo isso são exigências para as empresas que fazem, cada vez mais, parte relevante na construção da sociedade. Esse programa só é possível porque existe uma Federação, que trabalha para manter o setor de transportes do Estado organizado através do diálogo amplo e produtivo. Somos exemplo para outros estados do País”, destaca a diretora da UCT.
Aprendendo com o mestre
Atualmente, existem dezenas de jovens pensando em assumir a gestão dos negócios da família e que desejam conhecer mais sobre o setor de transporte. São sucessores que estão no processo de integração ou já fazem parte da administração das empresas. Os irmãos Pedro e Guilherme Tonello Alencar Rosa, filhos de Aloisio Ribeiro Alencar Rosa, presidente da Coesa, são exemplos de sucessores que já estão adiantados nesse processo. Pedro iniciou sua trajetória quando ainda tinha 17 anos e hoje, aos 28, se dedica à operação, área com a qual mais se identificou. “Antes de entrar na empresa, estagiei em uma consultoria em Engenharia de Transportes, seguindo orientações do meu pai. Sou formado em administração e cursei um ano de Direito, porém não continuei por não ter gostado. Independentemente da escolha da minha profissão, sempre pensei em trabalhar na empresa”.
Guilherme formou-se em economia, atuou durante cinco anos no mercado financeiro e não havia pensado, inicialmente, em atuar na empresa da família. Porém, quando o tio deixou a sociedade, seu pai o chamou e ele decidiu assumir o desafio, voltando-se para o setor financeiro e para a manutenção. “Trabalhar com o mercado financeiro, com a controladoria e a negociação faz parte do meu aprendizado e tudo isso ajuda na minha rotina. É interessante adquirir experiência fora da empresa, antes, para ter uma visão mais ampla de gestão, entender a apreensão de um funcionário ao falar com o seu líder, aprender a participar de um processo seletivo, contratar e também demitir, ter mais noção da vida e de como é estar do outro lado da mesa”, explica o jovem de 31 anos.

Pedro Tonello Alencar Rosa | Foto: Arquimedes Martins
Preocupação com o cliente
O patriarca sempre se mantém ao lado dos filhos, mas dando toda a liberdade para desempenharem seus respectivos papéis. “Ele gosta muito de estar aqui e acredito que dificilmente se afastará completamente, é ele quem mais busca e traz as inovações para implantarmos e nos motiva a fazer o mesmo. Acompanhamos as mudanças à nossa volta, mas o que não vamos mudar nunca são os valores que ele construiu na Coesa. Para nós, ele é um mestre”, diz Pedro.
Guilherme analisa que, antigamente, o mercado não era tão exigente, bem diferente de hoje: “O passageiro quer mais conforto e praticidade, as exigências aumentam a cada dia e as reclamações são feitas mais facilmente, principalmente através das redes sociais. Na empresa, os nossos investimentos voltados para o cliente fi nal deram bons resultados e o índice de reclamações é considerado baixo”, avalia o economista. E Pedro completa: “Nesse sentido, facilitamos a vida do usuário para nos aproximarmos dele e oferecer-lhe mais qualidade na prestação de serviço. Implantamos o WhatsApp no Centro de Controle Operacional (CCO), por ser o setor que pode ajudar de forma eficaz, pois monitorando as reclamações conseguimos entregar um serviço melhor. Atualmente, as demandas referem-se mais a pedido de informação que reclamação”.
Parceria que complementa
Os dois empresários trabalham em parceria e um complementa a habilidade do outro, sempre em harmonia, uma das fórmulas de bons resultados desse processo de sucessão. Até agora, o grande desafio tem sido enfrentar a atual crise pela qual o país passa. “Desde o ano passado, estamos tendo uma redução na demanda. As pessoas perderam o emprego e isso refletiu diretamente no setor, pois não utilizam mais ônibus diariamente ou mesmo para se divertir, devido à falta de dinheiro. Tivemos que enxugar a operação, interromper investimentos e conviver com o receio de não conseguir pagar as contas”, diz o administrador. Para Guilherme, a melhoria de tal situação está sob a responsabilidade dos políticos, que precisam decidir, seriamente, o que fazer. “As reformas são necessárias e devem sair de alguma maneira. É preciso que o País volte a produzir, crescer e gerar emprego, pois tem sido difícil para todos nós”.
Esses jovens empreendedores estão preparados para enfrentar o que vem pela frente. Para quem está começando agora, ou ainda está indeciso sobre assumir ou não a missão de seguir os passos do pai, Guilherme incentiva: “É uma experiência que deve ser vivida e depende bastante do pai de cada um. Quando saí do emprego, meu chefe ficou chateado e até me ofereceu nova oportunidade posteriormente. Mas para evoluir profissionalmente onde estava seria muito mais difícil. Não pensava em vir para a Coesa, mas estando aqui com o meu pai, eu me arrependo de não ter vindo antes”. E Pedro deixa uma importante dica: “Aproveite toda a experiência do seu pai porque ele está ao seu lado e certamente tem muito para ensinar”.
Formando uma nova geração
Outros dois exemplos dessa nova geração são Vanessa Teixeira Lavouras e Gabriela Cardoso Lavouras, do Grupo JAL, que reúne as empresas de transporte coletivo Flores, Real Rio, Planalto, Brazinha, Rio d’Ouro, Mageli, Beira Mar; a empresa de turismo e fretamento, Turismo Três Amigos, e a concessionária da Mercedes-Benz, Miriam. “Todos da nossa família com mais de 18 anos participaram de uma consultoria sobre o processo de sucessão, na Fundação Dom Cabral, durante um ano. Os interessados poderiam ingressar nas empresas como estagiários (quem não fosse formado) ou trainee, cargo que ocupo, atualmente, na Empresa de Transportes Flores”, explica Vanessa. De acordo com o programa, determinado pela direção em conjunto com a Fundação, os herdeiros deverão passar um ano em cada segmento do Grupo JAL para conhecê-lo profundamente. Após o aprendizado, os destinos serão definidos, considerando, entre outros pontos, suas vontades e afinidades com as empresas. O modelo de contratação seguido é o mesmo utilizado para os demais colaboradores, com um líder para quem se deve reportar e horário de expediente a ser cumprido. Nesse primeiro momento, nenhum dos fi lhos pode trabalhar diretamente com o próprio pai, devido ao relacionamento mais estreito entre as partes.
Vanessa é formada em marketing pela ESPM, com ênfase em planejamento, e possui MBA em Gestão de Novos Negócios e Empreendedorismo (FGV). Na época em que escolheu a profissão, os sócios do Grupo ainda não haviam discutido sobre sucessão. “Trabalhar nas empresas da família nunca foi uma opção. Nós só participávamos de eventos ou visitávamos a sede em algumas ocasiões, e estar aqui hoje é resultado da nossa proatividade. Se houvesse essa oportunidade, talvez eu pudesse ter sido influenciada de alguma maneira”, arrisca.
O empreendimento criado pelo avô, José Alves Lavouras, e o trabalho desenvolvido pelo pai, José Carlos Reis Lavouras, e tios, Sérgio Luiz, Cláudio José e Armando Roberto Lavouras, são exemplos de grande valor para Vanessa. “Sempre tive muito orgulho de tudo isso e falo também pelos meus primos. A Flores, por exemplo, oferece uma estrutura excelente aos colaboradores. Ver a atenção que eles recebem é estimulante e aumenta a vontade de entrar nos negócios da família e me engajar para ajudar a continuar tudo isso; todos amam trabalhar aqui. Qualquer tipo de negócio que alcançar essa fidelidade será sucesso, pois são essas pessoas que fazem a nossa história”.
Sobre o cenário atual
Antes de pleitear a chance de ser empreendedora na organização da família, a jovem teve outras experiências profissionais, como estagiar em uma assessoria de imprensa que presta serviços ao setor de transportes e trabalhar com planejamento de marketing em uma indústria de moda e em uma emissora de televisão. “Passar por outras empresas me permitiu ter olhares diferentes sobre as questões internas. Além disso, já ter sido empregada, não somente empregadora, faz toda a diferença nesse processo de sucessão”.
Todos os colaboradores foram informados sobre a chegada da nova geração no Grupo JAL e sobre como, inicialmente, seria esse processo. “A recepção foi positiva e nós também procuramos esse resultado ao nos entregarmos e nos aproximarmos, com muito respeito, dos demais colaboradores. De fato, eu e a Gabriela tivemos certo receio ao começar a fazer parte desse mercado majoritariamente masculino e, de certa forma, machista. Mas, estamos sendo muito respeitadas. Encontrar mulheres em cargos de liderança é irreversível. Para mim, a capacidade de exercer qualquer função está diretamente ligada à competência, não ao gênero”, diz.
Vanessa sempre acreditou ser importante conhecer o que foi construído pela família. Agora, em meio a esse processo de aprendizagem iniciado há quase um ano, a intenção é contribuir com a evolução das empresas. “É preciso otimizar processos, reduzir custos e aproximar-se do cliente final. Também é preciso ter paciência, entender que algumas mudanças levam tempo para serem implantadas e respeitar as limitações e as dificuldades que surgem diante de quaisquer inovações. O momento é de observar, aprender e absorver como funcionam as instituições e pensar em como contribuir para mantê-las, torná-las ainda mais prósperas e perpetuá-las. O maior desafio ainda está por vir: posicionar-se em alguma empresa e dar resultado; porque não basta ser herdeiro, é preciso dar resultados. Caso contrário, a sucessão não fará sentido”.

Vanessa Lavouras | Foto: Arthur Moura
A importância do primeiro passo
Para a trainee, um dos importantes fatores que favoreceram o êxito da primeira fase dessa nova trajetória foi tê-la começado ao lado da prima Gabriela, formada em Administração de Empresas e segunda mais jovem dentro do processo de sucessão da família. Gabriela estagiou no setor de planejamento financeiro de uma empresa do ramo imobiliário e, ao concluir sua graduação, surgiu a oportunidade. “Como ainda não se falava nisso, não pensava em trabalhar para o Grupo JAL. Escolhi seguir esta carreira por me identificar mais com a área financeira e quando nossos pais permitiram tal possibilidade, vi que foi uma feliz coincidência”, relembra Gabriela, que pretende especializar- se em finanças corporativas.
A administradora vê o carinho dos colaboradores em relação à instituição como um sentimento construído ao longo de muitos anos. “Todos gostam do ambiente, do trabalho, e sentem muita confiança nos gestores. É muito bom ver o orgulho que as pessoas têm do meu pai (Armando Roberto Reis Lavouras) e dos meus tios, que são também meu maior orgulho. Esse tipo de relacionamento tornou-se cultural e quero preservá-lo para sempre. Além do desafio de continuar os fundamentos que já existem, há o de conciliá-los às mudanças constantes do mercado; mas o primeiro passo já foi dado. Para quem está pensando em passar por esse processo, sugiro que se prepare e comece. É diferente. As pessoas conhecem a história da sua família, às vezes, tanto quanto você, mas é muito bom estar junto ao patrimônio, fruto de muito esforço, que também é seu. Conflitos vão existir em quaisquer lugares, mas a proximidade entre todos acaba sendo positiva. O importante é começar”, afirma Gabriela.
De volta para casa
A iniciativa de seguir os passos do pai, Valmir Amaral, também partiu do jovem Daniel Amaral, 28 anos, atualmente coordenador administrativo do Grupo Ponte Coberta. A vivência dentro da empresa já existia, principalmente em setores como a ofi cina e o almoxarifado, mas na hora de decidir o que fazer, optou por Economia, no IBMEC.“Outro curso que me atraía era Administração, porém a conversa com um dos meus primos me fez optar por ser economista; e tive todo o apoio da minha família nessa escolha, sem qualquer tipo de pressão para seguir ou não o seu caminho”, explica.
Daniel trabalhou dois anos em uma gestora de recursos e outros quatro na mesa de operações de um banco de investimentos, considerados por ele aprendizados importantes. Com o passar do tempo, percebeu que precisava de outros desafios. “Acabei buscando o que sempre esteve presente na minha vida. Vi com muito orgulho, desde pequeno, meu pai e meus tios trabalhando no setor de transportes e, querer fazer parte disso tudo foi natural. A aceitação foi imediata e ter outros tipos de experiências antes de estar aqui me proporcionou uma visão cultural diferente. Considero esse primeiro momento necessário para o sucessor ou herdeiro de qualquer segmento, porque são noções importantes para avaliar melhor o enquadramento e as novas possibilidades do seu negócio”, defende.
Em busca de soluções
No início, a mudança de ambientes teve seu impacto. “A realidade aqui é diferente da anterior, onde estavam pessoas com outras formações voltadas ao mundo das finanças. Ao mesmo tempo, foi estimulante estar ao lado de colaboradores totalmente motivados com o que faziam. Esse envolvimento era e é muito relevante. Há rodoviários que trabalham na empresa há muitos anos e confiam na gestão, que é próxima e amiga. Este é um dos legados do meu pai, ao qual me dedico diariamente, a fim de mantê-lo”.
Daniel passou por todas as áreas do Grupo até encontrar-se na Operação e, com o objetivo de preparar-se e entender melhor o processo de gestão, iniciou um mestrado em Administração de Empresas, no IAG (Escola de Negócios) da PUC, voltada às organizações. Em 2014, quando começou a trabalhar na empresa, o cenário econômico do País era diferente do atual e isso refletia no setor. “Estávamos com a rotatividade elevada, sem conseguir efetuar novas contratações porque havia outros setores, como o da construção civil, por exemplo, bastante aquecidos, o que provocou a migração da mão de obra. Ao iniciar a especialização, segui a sugestão da orientadora e desenvolvi, como tese, o tema ‘A influência da confiança organizacional para a retenção de talentos’, podendo alinhar o ambiente em que estava ao ponto de vista acadêmico”.
O trabalho do jovem empreendedor baseou-se na comparação entre os números da Ponte Coberta e da Empresa de Transportes Flores, considerada uma das referências em gestão no setor. Foram aplicados questionários nas duas instituições, com o objetivo de analisar a confiança organizacional em cinco perspectivas: solidez organizacional (até que ponto o rodoviário acredita que a empresa é sólida, honra seus compromissos etc.), padrões éticos (se a empresa é correta com o funcionário, se a comunicação flui etc.), reconhecimento financeiro, promoção do crescimento e normas relativas à demissão. A tese foi encaminhada para a diretora da UCT, Ana Rosa Bonilauri, que o convidou para ministrar palestra sobre o assunto. Até então, dentro do setor de transporte por ônibus ainda não havia estudo parecido. Internamente, todos colaboraram com a aplicação e o desenvolvimento das mudanças necessárias, visando à redução dos níveis de rotatividade da empresa, e os resultados têm sido excelentes.
A parceria entre as gerações
No painel “Ampliação de responsabilidades na sucessão das empresas: da excelência de gestão até a invenção do futuro dos negócios”, realizado no 17º Etransport, o palestrante, Dalton Sardenberg, da Fundação Dom Cabral, destacou a importância do respeito mútuo entre as gerações. “É preciso acolher essa geração (nova) e entender que dela vêm novas ideias que podem contribuir para a melhoria da gestão”. No Grupo Ponte Coberta, isso tem sido uma prática entre Daniel e seu pai, que lhe permite buscar alternativas para otimizar procedimentos. “Ele me dá liberdade para buscar novas alternativas para os nossos processos internos. Respeito muito a sua experiência e é muito bom tê-lo ao meu lado, senão não faria sentido. Eu o vejo como um mentor e um reflexo daquilo que eu quero ser”, diz.
Para o jovem, a melhor parte nessa nova fase é “propor uma mudança, trabalhar para que aconteça e se sentir gratificado ao perceber que está dando certo”. As maiores dificuldades sinalizadas por ele são inerentes ao ambiente de negócio, como: a alta carga tributária, a queda da demanda, a falta de investimento em infraestrutura e algum tipo de subsídio que favoreça o transporte público. “A criação de um subsídio para o transporte aliviaria o peso sobre o passageiro pagante, que atualmente arca sozinho com o custo das gratuidades e do sistema como um todo”. Mesmo com todas as dificuldades, Daniel é otimista: “O cenário vai mudar, o passageiro vai voltar e estaremos mais bem preparados para recebê-lo”, afirma.
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